RELÍQUIAS DO RIO: RESTAURANTE COSMOPOLITA

 

O restaurante Cosmopolita, na Lapa, é um daqueles endereços que precisam ser visitados por quem gosta de uma boa comida. Mesmo porque não sei se ele vai durar ainda muito tempo. Fica numa esquina da Av. Mem de Sá, no Rio de Janeiro, e já foi um dos lugares mais importantes da cidade, quando era freqüentado por políticos e também diplomatas, jornalistas e empresários, o que o levou a ser conhecido como Senadinho. Vem desse período a criação de uma receita que tem a cara do Rio, o filé à Oswaldo Aranha, batizado assim por ter sido criado pelo próprio. O prato é uma obra-prima da simplicidade e harmonia de sabores: um belo pedaço de filet mignon, grelhando-o de maneira a deixar uma casquinha queimada, dura e crocante, e um miolo rosado, macio e suculento. Numa frigideira de ferro fumegante a carne é servida escoltada por farofa, arroz e batatas fritas à portuguesa, aqueles chips crocantes que mexem definitivamente na textura de um prato assim, tão aconchegante. Em tempos de policiamento calórico o maitre sempre pergunta se pode, ao sevir em seu prato o pedaço de carne, arroz e farofa na chapa que está untada de manteiga e sucos da carne, uma daquelas tentações irresistíveis que são capazes de transformar a simples combinação de arroz e farofa num retrato sublime da gastronomia carioca.
 

É possível que alguém ache o prato calórico demais, mas não tratamos de dieta, e sim de prazer. Esse fabuloso conjunto carne-farofa-batata frita-arroz, nascido exatamente no distante ano de 1933, já se bastaria. Mas aí veio a genialidade culinária do velho Oswaldo Aranha, que certamente não poderia supor como ficaria famoso não apenas no Rio, mas em todo o Brasil, porque o prato virou clássico do receituário nacional, Ele, embaixador e ministro, mandou jogar por cima dessa bendita mistura um montão de alho finamente fatiado e frito . Isso é a glória. Um prato que, se fosse gente, merecia ser canonizado. É simples, tão puro que faz bem à alma. Para acompanhar este santo prato, o tradicional chopp do Cosmopolita. Ainda há outros pratos respeitáveis, que seguem à risca o receituário clássico dos restaurantes e bares mais cariocas do planeta. O cardápio lista coisas de bacalhau, cabrito, outras variações de uma boa peça de filé. Tudo preparado com aquela dignidade e fartura à moda antiga, do tipo que não se vê mais por aí hoje em dia. Mas, vai por mim. Não há razão de ir ao Cosmopolita e pedir algo que não seja chope e filé à Oswaldo Aranha. Em respeito ao bom gosto e em memória da cozinha carioca. (CJB)